A Câmara Municipal de Salgueiro realizou, nesta quinta-feira (07), uma audiência pública para debater e conscientizar a população sobre os riscos do tráfico de pessoas — crime silencioso, mas alarmantemente lucrativo. O encontro reuniu vereadores, representantes de instituições, professores, estudantes e autoridades, com destaque para a presença do desembargador federal Paulo Alcântara, coordenador do Grupo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas em Pernambuco (GTETP-PE).
Durante o evento, o magistrado agradeceu ao presidente da Câmara, vereador Léo Parente (PRD), pelo apoio à pauta e reforçou a urgência da mobilização contra esse tipo de crime.
“O tráfico de pessoas é crime, ele é cruel, infame e inumano. É algo bastante real, mas acontece de forma dispersa. Temos um país continental, onde muitas coisas podem ocorrer sem que saibamos. Os dados das Secretarias de Segurança apontam que 756 mil pessoas desapareceram no Brasil nos últimos dez anos” - alertou Alcântara
Entre as autoridades presentes estavam os vereadores Léo Parente (PRD), Agaeudes Sampaio (Republicanos), Mariano Barros (PSB), Augusto Matias(Republicanos) e Baldin dos Anjos (PRD); a coordenadora da Mulher Renatinha Sampaio; o chefe de gabinete da Coordenadoria da Juventude Daniel Alcântara; o presidente da OAB Salgueiro Natanayel Santos; policiais federais; além de professores e estudantes.
Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), o tráfico de pessoas é a terceira atividade criminosa mais lucrativa do mundo. O Protocolo de Palermo (2003) define o crime como o recrutamento, transporte ou acolhimento de pessoas, mediante ameaça, coação, fraude ou abuso de vulnerabilidade, com fins de exploração. Apesar de sua gravidade, trata-se de um crime altamente subnotificado, já que muitas vítimas não denunciam por medo, vergonha, desconhecimento ou risco de represálias.
O Relatório Global sobre Tráfico de Pessoas de2024, com dados de 156 países, aponta mais de 202 mil vítimas identificadas entre 2020 e 2023. No Brasil, segundo o Ministério da Justiça, a Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticosregistrou 972 denúncias relacionadas ao tráfico de pessoas apenas em 2024.
O coordenador do GTETP- PE também fez uma reflexão sobre o enfraquecimento das relações sociais e a perda de valores como cortesia e bons modos, que, segundo ele, contribuem para a vulnerabilidade das pessoas.
“A vida em sociedade não é fácil. Schopenhauer disse que temos dois modos de lidar com a aproximação: a cortesia e os bons modos. Hoje, as pessoas estão cada vez menos corteses e usando menos os bons modos, o que considero a principal causa do tráfico de pessoas. Nós deixamos de falar, ensinar e observar”.
O estudante de Direito da Fachusc, Jeferson,também participou do debate e enfatizou que o tráfico humano não é exclusivo dos grandes centros urbanos.
“Muitas vezes pensamos que é algo que ocorre apenas nas capitais, mas esquecemos que, no interior, onde falta informação e existe maior vulnerabilidade social, pessoas inocentes acabam caindo em golpes, acreditando em falsas promessas de uma vida melhor. Precisamos levar essa discussão às salas de aula e a todos os espaços possíveis para propagar esse alerta.”
Ao final, o presidente da Câmara, Léo Parente, fez os agradecimentos e ressaltou o papel do Legislativo na conscientização.
“Agradeço a todos presentes nesse momento de conscientização. É preciso termos um posicionamento claro entre o bem e o mal, e eu acredito que, quando a Câmara de Vereadores aceita um convite como esse, entendemos que é uma forma de se aliar ao bem e buscar mudar a vida de pessoas que poderiam ser vítimas do tráfico humano.”
A audiência terminou com o compromisso das autoridades e instituições presentes em ampliar ações de prevenção e intensificar campanhas de conscientização no município e na região.